fragmentos ordinários, por stêphaníe huber.

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[fragmentos entrelinhas] a identidade do sofrimento

[fragmentos entrelinhas] a identidade do sofrimento

e o sofrimento que não acaba só porque escolhemos rir de toda e qualquer desgraça.

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Stêphaníe Huber
fev 05, 2025
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[fragmentos entrelinhas] a identidade do sofrimento
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No fragmento da semana passada escrevi sobre esperança, você pode ler clicando aqui. Hoje, falo do mesmo assunto, mas por outra ótica.


O Crisóstomo respondeu que não lhe faltava nada, estava inteiro. E o rapaz pequeno disse-lhe que então ele devia passar a ser o dobro. Ser o dobro, disse. O pescador abraçou-o de encontro ao peito. Era o seu filho génio, o que sabia de matemática e que sabia fazer caldo verde e domesticar os cães como ninguém. Era o seu filho génio, com as palavras que lhe faltava. E o homem sorriu. O pescador sorriu, acabando de redobrar a esperança e julgando que outra vez poderia arriscar o amor. O Filho de Mil Homens, Valter Hugo Mãe.

As pessoas gostam disso.

Desse sofrimento vestido com a capa da alegria, do não aparentar ser qualquer coisa de ruim.

As pessoas gostam disso. Você gosta disso e eu também.

Existem poucas matérias que são consenso nessa vida estranha que vivemos e, com toda certeza, o sofrimento é uma dessas que agrada a maioria. Fingimos muito bem que não, mas no fim do dia gostamos muito de sofrer, de contar histórias tristes, de ter o obstáculo para superar, de passear cabisbaixos pela rua. Gostamos. Existe algum prazer no sofrimento, não há como negar — e quem ousa fazê-lo assume ser, no mínimo, um grande canalha.

O sofrimento contrapõe a esperança. E em um momento tão crítico da nossa construção como indivíduos, sofrer e aceitar o sofrimento em prejuízo à esperança pode ser uma tática de sobrevivência.

Se o sofrimento nos é imposto, então vamos vestir a camisa.

Agora, porque insistimos em achar bonito esse negócio de ser assim meio pobre coitado?

Do alto da minha insignificância, suspeito que construímos muito que bem um discurso de autodepreciação para dar algum corpo à nossa identidade.

Nos acostumamos tanto a rir da desgraça para sobreviver a ela que nosso look do dia virou essa chacota eterna de si mesmo e uma espécie de necessidade de se colocar no mundo como vítima “ó vida como sofre, ó vida como ri do sofrimento”.

“(…) o riso pode decorrer de um estado de espírito eufórico, mas também de um estado de espírito disfórico ou no qual euforia e disforia estão juntas. Dito com outros termos, o riso pode tanto acompanhar a alegria quanto sentimentos estranhos a ela: vergonha, ódio, raiva, insegurança, insolência, inveja, entre outros.” Humor e Tristeza: O direito de rir, Ives de La Taille

O humor e suas nuances — sou da piadinha também, eu sei onde dói.

Particularmente, carrego a sensação de que passamos a nos dedicar excessivamente a tudo que nos lembra de quantas coisas horrorosas existem no mundo. Também não acho que o caminho seja fingir que nada acontece e que os problemas são uma abstração, afinal, eles existem.

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