A Daniela Arrais fez essa pergunta no livro “Para Todas as Mulheres que não têm Coragem” e como prometi um retorno reflexivo após os trinta textos antes dos trinta, resolvi partir dela.
Mas antes, quero justificar a “demora”.
É interessante pensar em demora quando se trata de escrita — o tempo da palavra é outro.
Ocorre que, publiquei trinta textos seguidos e prometi que voltaria na mesma semana para falar sobre o processo, porém, entretanto, todavia, não consegui.
Os trinta dias antes dos trinta foram intensos. Emocional e fisicamente.
Me enfiei nesse projeto, tinha acabado de mudar de emprego, viajei para SP para comemorar e como tenho a tendência de querer fazer tudo ao mesmo tempo acontece de, as vezes, me perder no caminho.
Quando voltei de SP, percebi que precisava descansar.
Minha cabeça e meu corpo clamavam por outro ritmo.
Então, a primeira percepção pós-trinta foi de que preciso, outra vez, fazer as pazes com o descanso.
Contei no Conflituando, meu podcast com a Liara (vem ouvir), que costumo ser muito otimista com as minhas tarefas, demandas, vontades — chame do que quiser. E isso, meu povo, é de uma falta de inteligência e autocuidado que eu vou te contar, viu? Só que eu faço isso porque sei que vou dar conta.
Eu dou conta.
Mas a que custo?
A lista é sempre irreal, sempre pra ontem, sempre exigindo resultados imediatos de coisas que vão levar tempo para serem construídas.
E como eu aguento, sigo aumentando a lista. Esticando a corda.
O livro da Daniela — foi presente de aniversário de uma amiga que me conhece tanto a ponto de escolher um livro que parece ter sido escrito pra mim — faz gentis convites para revisitar a infância, a criança que perdemos no caminho e as histórias que nos formaram.
O interessante é que antes de ganha-lo de presente, eu já pensava sobre esse otimismo com a minha lista de tarefas e em um dia qualquer me perguntei: “eu quero provar o que com isso? Que eu consigo?”
Que eu consigo eu já sei. Precisava entender de onde vem.
A infância é um lugar que guarda muitas respostas.
Foi pensando nesse meu otimismo nos planejamentos que me lembrei de ouvir desde sempre que era preguiçosa.
Sei que meus pais fizeram o que podiam, com as ferramentas que tinham — como todos em seus respectivos tempos. Mas isso não anula os impactos. Principalmente em tempos onde o olhar para as crianças é muito mais humano.
E, talvez, pudesse dizer que o primeiro momento que me faltou coragem foi um desses em que ouvi ser preguiçosa. Mas não lembro ao certo e nesse caso não me interessa inventar histórias.
Acontece que a minha criança ferida por ter ouvido repetidas vezes que era preguiçosa, se tornou uma adulta que acha que faz pouco — mesmo quando risca todas as tarefas da lista.
Não é justo.
Não é justo comigo e não é justo com a menina que fui um dia.
Eu gosto de viver e gosto do movimento, dos dias cheios, de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. É quem eu sou. Mas também existe uma necessidade de provar alguma coisa para pessoas que já nem fazem parte da minha vida.
Sei também que esse recorte é individual e que as coisas não se resumem a quem eu sou e a forma como conduzo a vida. Vivemos tempos que exigem de nós performances diárias irreais — já falei sobre performance aqui.
Ainda não sei qual foi a primeira vez que me faltou coragem, mas percebi que acolho pouco a criança que fui. Afinal, olhando de perto, meu comportamento super otimista em relação às tarefas cotidianas é uma maneira de punir aquela criança preguiçosa.
Ela não fez, agora eu tenho que fazer.
Ela não foi o suficiente, agora eu tenho que ser.
Isso me faz pensar em outras perguntas:
Por quanto tempo vou seguir me punindo pra provar alguma coisa pro mundo?
Por quanto tempo nós vamos seguir nos punindo para provar alguma coisa pro mundo?
Em meio as minhas ambições, me pego refletindo quantas delas são só publicidade, quantas são desejos de fato e quantas são respostas que eu preciso dar para uma criança que sonhou em ser a mulher que sou hoje.
Não tenho respostas — e talvez seja interessante ir de Freud, Lacan ou qualquer coisa parecida.
Mas a coragem é um valor que tenho como fundamental. Não quero uma vida onde ela seja coadjuvante e sempre que me vejo em dúvidas me pergunto “qual é a resposta mais corajosa?”.
Percebi que tentar provar aos meus pais — porque sim, no fundo é para eles — que dou conta de tudo não é uma escolha corajosa.
Coragem, nesse momento, é aceitar o tempo das coisas e abrir espaço para o descanso.
Sei que a roda segue girando, mas pra que tanta pressa? Não tenho a vida que sempre quis — ainda — mas eu já tenho na vida muitas coisas que aquela criança sonhou em ter.
Esse espaço, inclusive, que é um refúgio e, mais do que isso, um projeto de escrita como ofício, só nasceu depois de muito elaborar uma caralhada de medos e faltas. E apesar de querer suprir o “tempo perdido”, não preciso ter pressa.
O que eu quero construir a partir daqui será construído no meu tempo.
No tempo da palavra.
Não no tempo do chicote e do autoflagelo.
E sequer acredito nesse papo de tempo perdido, apesar da sensação. O tempo é meu, ora.
Confesso que me culpei pela quebra de acordo. Prometi voltar na mesma semana e volto agora, duas semanas depois. Mas eu precisava descansar.
Nesse meio-tempo, revi amigos, organizei minha casa, tive um date comigo mesma para comemorar os trinta anos, retomei a rotina de treinos, dormi até mais tarde, passei tempo com quem amo, patinei, fui à feira com calma, tomei cafés demorados e terminei um livro.
Respirei.
A vida precisa de respiros para continuar acontecendo.
Acompanho a Nati Pegoraro aqui no substack e no LinkedIn. Ela fala de fracassos no mundo das startups — uma visão muito subversiva em um mundo que gosta de cacarejar vitórias. Essa semana, ela mencionou no LinkedIn que quer monetizar a sua News, mas ainda precisa entender o caminho e, para isso, se fez a seguinte pergunta:
"TÁ, MAS E SUA PESSOA AGORA, SEGUIRÁ VIVA APÓS O MÊS 6? E NO MÊS 10, ESTARÁ RESPIRANDO POR APARELHOS OU DANDO CONTA?”
A tal perguntinha me balançou — e nessa altura do campeonato vocês já sabem o motivo. Eu começo os projetos sem pensar se a Stê do futuro vai terminar respirando por aparelhos ou dando conta com qualidade de vida.
Ignorar essa pergunta é um tiro no pé gigantesco. Sei porque tenho pressa, sei porque quero correr. Demorei tanto tempo para entender qual caminho seguir e agora que entrei no trilho, quero aproveitar muito bem essa viagem.
Mas preciso garantir a minha sobrevivência no processo. E digo isso, porque também estou estruturando a monetização dessa news.
Vai acontecer em janeiro (o acesso gratuito continuará para muitos conteúdos) e quero entregar um conteúdo digno de monetização. Para isso, preciso estudar a plataforma, estruturar os benefícios e planejar o calendário editorial. É trabalho pra porr* — um trabalho que gosto e me interessa, mas ainda assim trabalho.
A ideia é que os fragmentos sejam mais frequente e a pergunta da Nati bateu forte porque sem esse planejamento minucioso a Stê de junho não vai estar viva — ou vai, mas respirando por aparelhos.
Por isso, vou deixar esse canal sem atualizações até janeiro, ok?
Preciso de incubação, de tempo de planejamento e trabalho silencioso para voltar com algo legal e de qualidade.
Já disse que quero construir este espaço junto com vocês. então sigo contando com vocês para subir esse edifício, tá bem?
Mas vamos descansar um tanto nesse fim de ano?
Vamos acolher nossas crianças feridas antes de matar o que ainda resta delas?
E, principalmente, vamos fazer planos que nos mantenham saudáveis e que sejam sustentáveis ao longo do tempo?
Fim de ano é sempre assim meio truncado, mas quero que 2025 seja mais intencional e menos responsivo.
Não acredito e nunca acreditei que a escrita se constrói do dia pra noite e apesar de ter sido muito bom pegar fôlego correndo, a vida é uma maratona não um tiro de 100 metros, né?
Não lembro a primeira vez que me faltou coragem, mas respeitar o meu tempo em um mundo que impõe velocidades irreais é, sem dúvidas, um ato corajoso.
Boa semana.
Antes de ir, respire por alguns segundos.
Abraço,
Stê.
Ui. Tocou. Me vi em tantas falas suas, nossa! E engraçado “de fora” te ler de forma tão acolhedora, mas aqui comigo ainda sentir tão visceral. Voltarei pra ler outras vezes. Obrigada 🫂♥️